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Monday, March 13, 2006

 
As Frutas Podres do Séc XX



Minha casa tinha muitos livros e minha infância foi feita de escaladas perigosas sobre apoios muito precários sempre buscando encontrar alguma novidade, uma nova orelha de livro para espionar, algum texto misterioso, uma ilustração diferente. Na adolescência eu iria dar continuidade a estas atividades de rato de biblioteca ainda que bem menos feliz e muito mais porque uma disritmia me emprestava uma aura de insanidade impedindo qualquer forma de relacionamento saudável com o sexo oposto. Sem namorar e invejando meus felizes amigos continuei mergulhado na biblioteca da casa, lendo de tudo um pouco, ate enciclopédias. Devo admitir que o fato de ter pais socialistas ajudou bastante a valorizar o habito da leitura. Os socialistas, mesmo os mais renitentes ateus, formam um quadro familiar muito próximo ao das pessoas que professam ardentemente uma religião. Tudo está ordenado ao redor de uma profissão de fé cheia de preceitos éticos e princípios básicos. (me refiro às crenças sinceras, evidentemente). Assim, para minha família os livros sempre tiveram uma importância capital na formação de uma pessoa, ilustrando, abrindo novos horizontes para através do conhecimento se transformar numa arma de luta contra o preconceito, as injustiças e o arbítrio. Foi então que comecei a entrar em contato com aquilo que eu chamo as belas frutas do século vinte. Nas estantes da velha casa dos meus pais eu devorei as historias da revolução Russa, pilar da fé que habitava aquela casa. Não foi tempo perdido, nem acredito que aquela revolução tenha sido em vão. Pensando bem, desde as conquistas da mulher ate metodologias de marketing e ergonomia das empresas atuais devem algo as conquistas de 1917. Porem ao avançar pelas estantes da casa e principalmente ao entrar no território ocupando pelos livros de meus irmãos mais velhos fui encontrando criticas veementes aos desdobramentos históricos daquele evento passando pelas soturnas figuras de Stalin e Beria e terminando na mediocridade do politburo. Então descobri, a fruta estava podre. Mas o fascínio pelos livros atravessou todas as crises.e foi me apresentando outros frutos. Foi xeretando nos livros que descobri o século XX, suas grandezas e misérias. E foi então que me deparei com a mais heróica luta dentre tantas que aconteceram neste desesperado século mesmo sabendo que é difícil e absurdo fazer este tipo de comparações. Mas eu acho que encontrei ali uma luta impar pela brutal desigualdade de condições entre seus contendores , onde uma das partes não podia ter a mais mínima esperança de vitória, uma luta que era mais um gesto de dignidade, um sacrifício final que serviria de exemplo para as gerações futuras , o levante do Gueto de Varsóvia. Ali eu acompanhei a desesperada luta casa por casa entre pessoas comuns, sem preparo militar, levadas por uma política deliberada de segregação e fome a mais extrema fragilidade e sem quase nenhum armamento se levantar contra a tropa de elite do exercito alemão. Combateram por semanas e, quando o gueto foi bombardeado com concreto e transformado em um monte de escombros ainda assim se ouviam disparos feitos por espectros que teimavam em resistir. Desesperados mas com determinação de redimir seu povo de anos de humilhação indescritíveis, Crianças e velhos se explodiam no meio da tropa inimiga. Lutaram com mais bravura que os homens de Stalingrado ( a maior batalha da historia onde Hitler perdeu as botas ) porque lá pelo menos eram dois exércitos em conflito, ou mesmo que os bravos homens de Giap, porque no Vietnam também eram dois exércitos que se enfrentavam. Em Varsóvia eram pessoas comuns no limite da miséria humana, sem nada alem do valor que o desespero pode nos dar. Ali brilhava o homem nos seus extremos, pois a vida barrava o caminho dos fascistas e dava esperança ao mais cético de nós. Nas vielas e esgotos de Varsóvia. Depois eu encontrei um livro chamado Exodus contando a saga dos sobreviventes da hecatombe judaica tentando romper a hipocrisia eterna das grandes potencias e através da desobediência civil e do que hoje muitos chefes de estado chamam de atos terroristas atravessar em massa o Mediterrâneo para construir sua pátria refugio. Nascia um outro fruto, Israel estado dos desesperados, refugio da gente barbarizada que em pouco tempo fizeram do deserto um jardim. Mas para quem? Mais uma fruta está podre e já faz algum tempo. Com horror eu vejo a linguagem da morte e da intolerância brotarem da boca dos descendentes daquela gente que lutou em Varsóvia. A mesma terminologia, a verborréia antiterrorismo alimentando o olho por olho da babilônia e o fazendo triunfar em pleno século vinte., os mesmos comunicados militares, a mesma terminologia esquizofrênica dos manuais de contra-insurgência,e no fim das contas, os tanques estão de volta ao gueto. Mudaram os nomes, os netos dos combatentes da rua Franciskowa agora fazem o papel das tropas de assalto do carrasco Sturm. Não é mais Varsóvia, estamos em Jenin,. Com horror percebo mais uma fruta podre e com horror espero que seja a ultima.

Comments:
muito bom alemão!
no fim o catequismo se mostrou muito bem feito.
muito bom mesmo. vai ver o meu blog tb!
 
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